quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Experiências


Ema acorda, sai em silêncio, encosta a porta com todo o cuidado. Ouvem-se os cães a ladrar, as crianças a brincar, os pratos a bater e ela também acorda. Dirige-se ao espelho, passa as mãos no rosto, passa uma escova no cabelo e senta-se numa almofada perdida no exausto ambiente vivido naquele quarto. Ao lado havia um lápis e um papel em branco. Olha por entre a janela, outra lágrima preenche a sua face triste. Pega no lápis e no papel e escreve. Escreve tudo o que sonhara que acontecesse. As lágrimas caiem continuamente do seu rosto e ela escreve durante minutos, sem parar apenas um único momento. Tudo o que escreve é sentido; baseia-se no conhecimento através das impressões, porque ela cresceu muito com ele, aprendeu muito com ele!
Pára de escrever, atira com o lápis, sem que se perceba onde está ele agora. Lê tudo o que escrevera, e por entre aqueles soluços incontroláveis, esboça meros sorrisos. Agarra no papel e coloca-o dentro de uma caixa preta, repleta de fotografias, desenhos, de recordações. Recordação, sim, é este o motivo de sofrimento. Abraça uma almofada com toda a força e chora. Chora perdida na dor, na dor que a sufoca, que a não deixa pensar, que a não deixa lutar, que a não deixa viver. Os sonhos? Os sonhos agora eram folhas caídas de árvores debruçadas. Agora, agora não havia qualquer motivo que a fizesse sorrir, que a levasse ao auge da felicidade, que a completasse. Agora apenas existiam pedaços de si, pedaços espalhados por todos os momentos vividos com ele. E ele, ele era o portador de todos aqueles pedaços, dos quais ele também fazia parte. Ele era a peça mais importante, a que fazia girar o seu mundo, a que tornava os seus riscos em maravilhosos desenhos, a que juntava as palavras de forma tão profunda. Era ele a sua vida, ele era a sua música.
Torce a almofada tentando-a destruir, porque é essa a vontade que tem de fazer com a sua vida, mas perde as forças.
Levanta-se, pega num casaco escuro, com alguns riscos de tinta colorida, parece ser antigo; veste-o e agarra numa tela branca, nos pincéis e escolhe as cores para desenhar a sua vida.

4 comentários:

  1. Os textos estão absolutamente fantásticos amor. Tens que publicar muitos mais. Faz-me sentir tão bem lê-los. (L)

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  2. A cadela tinha que vir (:
    como amas aquela labradora *
    Tinha que estar aqui um dedicado a ela (:

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  3. Não desiludes :D
    Muito bonito, estás a ganhar uma fã!

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  4. "veste-o e agarra numa tela branca, nos pincéis e escolhe as cores para desenhar a sua vida."
    cada um desenha a sua vida da cor que quer!!
    sabes que smpre precisares tou aqui Joaninha!
    LINDO
    *.*

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